quarta-feira, 13 de julho de 2011

O difícil é olhar para o lado e se sentir diferente, é perceber ao seu redor que o mundo está cheio de gente e se sentir sozinho. Tenho dois olhos, quatro membros, vejo, escuto, sinto, faço tudo como qualquer outra pessoa. Tenho minhas obrigações, choro, gosto de ficar com meus amigos. Por que é que então todos me dizem que sou diferente? Por que me olham como se eu não pertencesse a esse planeta? Em que manual está escrito como eu devo conduzir meu coração? Aliás, onde está dizendo que sou eu quem conduz meu coração? O que ninguém entende é que não escolhemos como vamos ser, podemos escolher o que fazer. Mas não escolhemos de quem gostamos, como ou quando vamos nos apaixonar. Não tenho culpa de ser assim, não tenho culpa de me sentir atraída por mulheres. Não queria que as lágrimas da minha mãe custassem meu sorriso, não queria que os “amigos” de meu pai zombassem dele como se fosse uma vergonha me ter como filha. Por muitos anos não me olhei no espelho, desejei ser invisível, desejei morrer. Porém eu continuo sendo o mesmo: já estudei como todos, tenho perfis em mídias sociais – o que ainda me deixa um pouco menos isolado -, tenho meus sonhos, tenho minhas vontades, continuo sendo a mesma filha que sempre fui. Se continuo sendo a mesma por que me olham como se eu tivesse sofrido um acidente e estivesse desfigurado? Minha mãe diz que não me reconhece mais... Como assim? O fato de amar alguém igual não te faz pior que ninguém. Todos somos diferentes, por que será que o meu diferencial incomoda tanto? O que mais dói não é o xingamento dos outros, os outros são só os outros e sempre serão. Outros não têm importância em minha vida, nem ocupam espaço. O que dói de verdade é sentir que sua mãe chora porque você ri, é olhar para o lado e ver seu pai caminhar com você de cabeça baixa, sentindo vergonha de assumir o papel de pai, de pai de uma “bolacheira” como ele costuma chamar. Engraçado que na época do colégio, ele era o pai mais orgulhoso do mundo. Me carregava nas costas, me exibindo como se eu fosse um troféu. Agora que o troféu dele “se descobriu” ele prefere guardar no armário. Taí outra coisa que eu não concordo, “se descobrir”. Eu não descobri nada porque eu não procurei nada. Eu sou assim, sempre fui, nasci sendo essa pessoa. Só que antes eu não me compreendia direito, mal sabe eu que essa época era a mais fácil que eu ia passar. Mais fácil porque só eu não me entendia, hoje todos se perguntam quem sou eu. Estou aqui para responder! Eu sou aquela menina que aprendeu a andar, aquela que morava na casa com tijolinhos vermelhos, aquela que te ajudava com as compras mãe, aquela amiga que ajudou a vocês dando colo, muitas vezes em malefício próprio. Eu não mudei, continuo a mesma. O que mudou foi o preconceito que cegou vocês a ponto de não perceberem que o amor está acima de todas as coisas. Mas eu não estou aqui para ser piegas. Estou aqui para simplesmente falar que violência no meu caso não é só porrada ou apelidos pejorativos. É o riso que acompanha minhas caminhadas, é olhar reprovador que recebo da ala mais conservadora, são os comentários que eu insisto em fingir que não escuto, é todo e qualquer ato que me agride de uma forma direta ou não. Não é fácil ser tratado como uma doente ou como uma doença. Mais o que dói de verdade é ver que os que você mais ama e que te prometeram lealdade acima de tudo colocarem pensamento pré-conceituados nessa sociedade hipócrita acima de seus sentimentos, de sua felicidade. Seria demais pedir a compreensão de todos, só entende quem passa. Ninguém sabe minha dor se não sangrar junto comigo. Enfim, queria terminar dizendo que a escuridão machuca mais que o preconceito. Então mesmo sendo difícil, viva. Não estou dizendo que ninguém tem que viver do mesmo jeito que eu, até porque cada um tem sua vida e mesmo tentando seria impossível. Mas viva do jeito que te faz feliz, sem agredir ninguém... Porque o essencial sempre será invisível aos olhos.

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