quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


Você seria capaz?

...seu sorriso é arrependido, vagamente desapontado com alguma lembrança que não consegue esquecer, parece que ela está ali diante dos seus olhos, parece que nunca desaparece da sua mente, parece que... ela convive com essa lembrança, mesmo quando sorri, mesmo quando tá feliz, eu não sei ao certo se ela é feliz, mas aparenta ser.
Eu não sei se quando fala comigo está realmente olhando pra mim, ou olhando pra lembrança que parece sempre estar em sua frente. É estranha. Calma e agitada. Tem um sorriso tão bonito e tão difícil. Conquistá-la é uma das coisas que eu não sei se seria capaz de fazer. Tenho percebido que deixa rastros em todo canto. Desde o seu perfume forte e doce a corações partidos. Eu não estava disposto a ser mais um desses.
Quando eu a escuto falando de seus problemas me impressiono com aquele sorriso sempre ali, falando de coisas assustadoras sobre seu passado. Por um momento da conversa eu a olhei fixamente. Ela percebeu.
Eu disse : Você é tão bonita! Ela sorriu. Pela primeira vez eu achei que ela sorriu pra mim. Eu disse firmemente: Você vai ser feliz! Segurei a sua mão. Ela olhou para a lembrança, engoliu o nó que tinha na garganta e disse sorrindo: Eu sou!
Seu olhar era intenso. Mas eu não conseguia discernir. Eu achava incrível a forma como ela chamava atenção das pessoas. Ela é baixa, bonita, cabelos curtos, rosto sério, persuasiva , argumentativa, inteligente, extremamente inteligente. Eu ainda não tinha entendido o porque que ela tinha aceitado sair comigo. Ela era formal. Parece que tinha envelhecido antes do tempo. Não conversava como uma garota de vinte anos. Eu a achava fantástica. E não imaginaria que ela se interessaria por mim. Bom, eu não sei se ela está realmente interessada. Ela esconde algo. Não sei o que é. Mas ela esconde. Talvez não seja nada. Ou um pouco de tudo. Enquanto eu a observava, ela se molhava com a "ressaca" do mar batendo nas pedras. Ela não se importava. Só pensava demais. Isso as vezes me aborrecia por pensar que não escutava nada do que eu falava, mas, para surpresa minha, ela sempre perguntava algo interessada do que eu tinha acabado de falar. Ela era a primeira pessoa capaz de me trazer uma mistura de todos os sentimentos. Eu nunca imaginei que uma "garota" de vinte anos fosse fazer tamanha confusão.Eu me sentia um bobo. E eu não sei o que ela estava pensando sobre mim. Ela agia como queria. E me abraçou. Beijou meu rosto, sorriu e disse que gostava de ficar perto de mim. Antes de falar, ela pediu pra eu não falar nada. E eu a abracei. O cheiro dela ficou em mim. Perguntei se ela queria ir embora, mas ela disse que não, que queria ficar mais um pouco. E me puxou para dentro do mar. Ela segurou minha mão. Firme. Parecíamos um casal. Bom, nós éramos um casal, só eu não acreditava ainda. Molhamos nossos pés e ela perguntou se eu via aquela luz que estava todo tempo acendendo e apagando bem lá no fundo do mar. Disse que sim. E que as luzes eram intensas, mas que de repente se apagavam, não dava pra saber ao certo de onde vinha. Ela sorriu. Sorriu arrependidamente. Desapontada. Infeliz. Triste. Amarga. Dolorida. E me respondeu: Você seria capaz? 
Demorei pra responder. Pensei. Entendi a comparação. A luz que se apagava era ela, apesar de ser linda e intensa. Eu não respondi.
Eu a beijei.