sábado, 26 de maio de 2012


“Tá faltando alguém”, eu disse, quando ele fez silêncio e a chuva diminuiu. Ele me olhou cansado, segurando suavemente a taça de vinho em uma mão, e agarrando um cigarro na outra. “Vai falar sobre aquele cara de novo?”, perguntou, curvando as sobrancelhas. “Não vou falar sobre o Lucas. Só falei que está faltando alguém.”, me levantei para pegar mais vinho. “Você pensa muito nele. Às vezes isso me cansa.”, ele explicou, numa voz torta e mais cansada do que sua expressão. “Bom… Se não gosta da minha companhia…”, comecei a falar, num tom de descaso. Ele me interrompeu, “Não venha me atacar com teu desprezo e tua falta de sentimentos, essa baboseira sobre não se importar com o que eu penso e com o que eu sinto. Já deu, Clarice. Não tô nem aí para o que eu sinto também, nem para o que você sente. Pode parar de tentar construir esses muros aí envolta de ti, porque eu não vou tentar mais te ajudar ou te conhecer. Já cansei.”, eu olhei pra baixo, um pouco surpresa, rindo baixo. Ele ficou em silêncio por um tempo. Depois falou alto demais, “O que foi? Do que tá rindo?”, eu o olhei, “Não cola. Essa sua história aí não cola. Você vai me ligar amanhã de manhã preocupado com o que eu fiz depois que você foi embora, vai me chamar pra passar o dia com você, vai me mandar umas trinta mensagens falando sobre como eu cruzo as pernas, como meus cílios tem a leveza de um gato. Eu poderia escrever um livro com todas essas coisas que você sempre diz. Não cola, não cola. Você não vai deixar de se preocupar comigo.”, ele se levantou e colocou o vinho no chão. “Eu me cansei, já disse. Não vou mais te procurar. Quando você quiser alguma coisa, me procure. Pra mim, já deu.”, disse, indo embora.
Meu telefone tocou depois de meia hora.

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